quinta-feira, 30 de abril de 2009

VOCÊ ENTENDE A QUÍMICA?

De acordo com a Professora Olga Mascarenhas (IQ-Unesp) “A Química, e a maior parte da ciência, é formal por sua natureza, necessitando para a sua compreensão o desenvolvimento do raciocínio químico. Sabe-se que o cerne da ciência química é perceber, saber falar sobre e interpretar as transformações químicas da matéria. A falta de interesse e/ou o medo da química no ensino médio pode ser explicado pelo não entendimento ou aprendizado dos conceitos ministrados.”
Já o professor de Química, o canadense Joe Schwarcz escreveu vários livros, explicando que a Química não é algo a ser temido ou evitado. Ele conta várias histórias, como se fossem parábolas, que tem como objetivo fazer do leitor, leigo ou um estudante de química, um consumidor desconfiado que não embarque em propaganda enganosa e pesquisas sem fundamento. No seu último livro: Barbies, Bambolês e Bolas de Bilhar (Editora Zahar) , ele faz 67 deliciosos comentários sobre a fascinante química do dia-a-dia, do qual, aqui transcrevo um deles:
O DESTINO DA ESPOSA DE LOT
O guia turístico aponta para uma coluna de pedra quando o ônibus deixa o mar Morto e entra no deserto de Neguev. “Essa é a esposa de Lot”, explica em tom sério. Os ouvidos se aguçam enquanto ele rapidamente relata a história bíblica familiar do justo Lot e sua senhora, alertados pelo Todo-poderoso sobre a iminente destruição de Sodoma e Gomorra. “ A eles será permitidos sair sem medo de serem feridos, desde que não olhem para trás, para que a tempestade de fogo que consumirá as cidades pecadoras. Mas a curiosidade da sra. Lot foi maior – ela se virou para espiar e imediatamente foi transformada em uma coluna de sal. E ali ficou por milênios.”
Ouvem-se risadas por toda parte, e alguns maridos menos sensíveis até cutucam suas esposas para sublinhar os perigos de serem curiosas. Finalmente, a história da coluna é tratada com pouca importância, como um trecho da fala do guia turístico. Mas isso é tudo? Um professor de química da Northwestern University, de Chicago, afirmou outra coisa.
Em artigo apresentado à prestigiosa revista Royal Society of Medicine, o dr. I.M. Klotz disse que existe uma explicação científica para a lenda de Lot. Em um artigo cheio de equações, fórmulas e linguagem técnica altamente poderosa, Klotz explica como a sra. Lot poderia ter se transformado literalmente em coluna de calcita, uma forma do mineral comum de carbonato de cálcio.
Todos sabem que nossos ossos contêm cálcio, mas poucos têm conhecimento de que nosso sangue e tecidos também. Na verdade nosso sistema nervoso e nosso coração não poderiam funcionar sem cálcio. Também é bem conhecido o fenômeno pelo qual, quando a matéria orgânica queima, se produz dióxido de carbono. Sem dúvida grandes quantidades de dióxido de carbono foram liberados no inferno de Sodoma e Gomorra.
Quando a sra. Lot se virou, ela engoliu uma boa porção daquele gás, e isso disparou uma reação instantânea em seus tecidos ; o cálcio formou carbonato de cálcio insolúvel. De acordo com o professor Klotz, ela literalmente transformou-se em pedra, morrendo de rigor calcium carbonatus.
Uma tese interessante. Os editores da revista obviamente pensaram assim, achando-a digna de publicação. Existe apenas um problema com essa fascinante saga química: é pura bobagem. Um momento de reflexão imediatamente revelaria que os poucos gramas de cálcio presentes nos tecidos humanos nunca poderiam transformar o corpo em pedra, mesmo se a reação com o dióxido de carbono fosse possível. Um professor de química poderia cometer um erro tão elementar? É claro que não. O dr. Klotz não estava cometendo um erro – estava marcando uma posição.
Ele quis mostrar como é fácil fazer com que bobagens sejam publicadas na imprensa científica. As pessoas que criticam os artigos apresentados à revistas da Royal society of medicine tendem a ser médicos. Muito possivelmente, há tempos esqueceram a química básica e supuseram que a complicada discussão do dr. Klotz certamente fazia sentido. Klotz certamente gostou de ler algumas cartas ao editor que focalizavam as nuances de sua teoria.
O que devemos aprender dessa travessura? Que um grau de ceticismo é muito salutar ao lidarmos com a informação. Argumentos sem sentido podem soar lógicos e ser muito persuasivos, na ausência de um conhecimento pertinente. Da próxima vez que lermos sobre a adução alienígena, colheres dobradas com a força da mente ou o último suplemento de dieta que cura todos os males da humanidade, lembremos do destino químico da mulher de Lot.

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